Adoro road trips. Viajar pela
estrada tem uma certa aura romântica, permite ver a paisagem, observar as suas
alterações ao longo do caminho, e o tempo que forçosamente se perde ajuda a
desapegar progressivamente do lugar de onde se parte e aproximar do lugar para
onde se viaja.
A road trip para a região de Ica,
no fim de semana grande do feriado de Todos-os-Santos, teve vários adjuvantes a
estas vantagens iniciais: a estrada desde Ayacucho passa no meio das montanhas,
sobe aos quatro mil metros de altura e a paisagem é deslumbrante. Desde penedos
escarpados e áridos a planaltos verdejantes e cultivados, passando por rios e
cascatas. Apanhámos frio e neve pelo caminho, e também sol e calor. E vento. E
muitos rebanhos de ovelhas, de lamas e de alpacas, que são dos quadrúpedes mais
fofos que já vi nesta vida.
O meu primeiro rebanho de lamas
Outra vantagem desta road trip
foi o facto de termos viajado em carro próprio, e não de autocarro. Nestas
circunstâncias o carro torna-se uma espécie de casa móvel, lugar conhecido e
refúgio permanente numa jornada em que a paisagem em redor muda a cada
instante. E também depósito de bagagens e da imensa tralha que se vai
acumulando ao longo dos vários dias. Este não era um carro qualquer: era uma
carrinha jipe da Cruz Vermelha Internacional. Motorista oficial: Otchoa;
tripulação: Sílvia, Celsa, Juan e Willie, que acumulavam à vez a função de
co-piloto e zelador do i-pod ligado ao rádio.
Willie, Otchoa, Celsa, Juan e eu, com a nossa casa móvel da Cruz Vermelha Internacional
Chegámos à vila piscatória de
Paracas na sexta-feira ao final da tarde. A estrada para a costa atravessa um
deserto imenso de dunas e montanhas áridas, casinhas baixas e mal acabadas, e
chega ao mar. As praias da costa sul do Perú não são em nada superiores à minha
Caparica e a água é pouco mais quente, mas foi uma emoção ver o mar, depois de
quase um mês rodeada de montanhas. Paracas é minúscula e demasiado turística, e
interessa apenas por duas razões: as viagens de barco às Islas Ballestas,
património natural protegido onde não é permitido desembarcar, e onde se pode
observar uma imensidão de espécies animais marinhas – focas, pinguins,
pelicanos, gaivotas, entre muitas mais; e a entrada na Reserva Natural de
Paracas – o verdadeiro deserto do Saara no Perú. Outra das vantagens de irmos
de jipe foi podermos percorrer as dunas fora dos caminhos traçados e subir as
encostas íngremes sem risco de atolar. Nunca tinha estado num deserto e não
consigo descrever a sensação com justiça. O mais aproximado que posso dizer é
que me senti um grãozinho de areia nesta imensidão dunosa. E as praias são
muuuuuuito bonitas. E desertas. Mas infelizmente no sábado o céu esteve nublado
todo o dia, e apesar de não estar propriamente frio a temperatura ambiente não
convidava ao banho. Bolas!
Baía de Paracas
Islas Ballestas
Reserva Natural de Paracas - entrada no deserto
Depois do deserto de Paracas
seguimos para sul, em direcção a Ica, e fomos dormir à Lagoa de Huacachina. É
um oásis no deserto. No verdadeiro sentido da palavra. Dunas e mais dunas,
areia e pó, e de repente uma lagoa, rodeada de hosteis, restaurantes e bares.
A-DO-REI. Outra vez indescritível. As minhas duas penas em relação a este lugar
foi termos ficado apenas uma noite e não termos tido tempo de fazer sandboard –
o ex-libris desta região. Mas tivémos tempo para um mergulho na piscina antes
de jantar, e para passear à volta da lagoa, e para provar a bebida típica da
zona – o Pisco Sour – e para dar um pézinho de dança na discoteca local.
Huacachina tem muitos turistas e peruanos que vêm passar o fim de semana e
fazer sandboard. Eu sonhava com uma festa com fogueira à beira da lagoa, mas em
vez disso vi o amanhecer da encosta de umas das dunas que rodeiam o oásis. E
quando partimos no domingo de manhã, eu e a Celsa tínhamos a mesma sensação:
havemos de cá voltar.
Lagoa de Huacachina - um oásis no deserto
O amanhecer a meio da duna
A viagem de regresso foi
interminável e muito cansativa. Outra vez as montanhas, os rios, as lamas e as
alpacas. Quando cheguei a Ayacucho já estava nostálgica do deserto e do mar.
Foi um fim de semana muito especial, por todos os lugares incríveis que vi,
pelas refeições deliciosas de peixe e marisco que comi, e pelo convívio e
galhofa que se gerou na nossa casa móvel, aumentando o à-vontade e confiança
com algumas das pessoas que já conheço aqui e que comecei a frequentar.
E agora a próxima viagem, quando
é? :D
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