sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DIA 23 – A PRIMEIRA VIAGEM: PARACAS e HUACACHINA – UM OÁSIS NO DESERTO


                Adoro road trips. Viajar pela estrada tem uma certa aura romântica, permite ver a paisagem, observar as suas alterações ao longo do caminho, e o tempo que forçosamente se perde ajuda a desapegar progressivamente do lugar de onde se parte e aproximar do lugar para onde se viaja.

                A road trip para a região de Ica, no fim de semana grande do feriado de Todos-os-Santos, teve vários adjuvantes a estas vantagens iniciais: a estrada desde Ayacucho passa no meio das montanhas, sobe aos quatro mil metros de altura e a paisagem é deslumbrante. Desde penedos escarpados e áridos a planaltos verdejantes e cultivados, passando por rios e cascatas. Apanhámos frio e neve pelo caminho, e também sol e calor. E vento. E muitos rebanhos de ovelhas, de lamas e de alpacas, que são dos quadrúpedes mais fofos que já vi nesta vida.




O meu primeiro rebanho de lamas 



                Outra vantagem desta road trip foi o facto de termos viajado em carro próprio, e não de autocarro. Nestas circunstâncias o carro torna-se uma espécie de casa móvel, lugar conhecido e refúgio permanente numa jornada em que a paisagem em redor muda a cada instante. E também depósito de bagagens e da imensa tralha que se vai acumulando ao longo dos vários dias. Este não era um carro qualquer: era uma carrinha jipe da Cruz Vermelha Internacional. Motorista oficial: Otchoa; tripulação: Sílvia, Celsa, Juan e Willie, que acumulavam à vez a função de co-piloto e zelador do i-pod ligado ao rádio.

Willie, Otchoa, Celsa, Juan e eu, com a nossa casa móvel da Cruz Vermelha Internacional

                Chegámos à vila piscatória de Paracas na sexta-feira ao final da tarde. A estrada para a costa atravessa um deserto imenso de dunas e montanhas áridas, casinhas baixas e mal acabadas, e chega ao mar. As praias da costa sul do Perú não são em nada superiores à minha Caparica e a água é pouco mais quente, mas foi uma emoção ver o mar, depois de quase um mês rodeada de montanhas. Paracas é minúscula e demasiado turística, e interessa apenas por duas razões: as viagens de barco às Islas Ballestas, património natural protegido onde não é permitido desembarcar, e onde se pode observar uma imensidão de espécies animais marinhas – focas, pinguins, pelicanos, gaivotas, entre muitas mais; e a entrada na Reserva Natural de Paracas – o verdadeiro deserto do Saara no Perú. Outra das vantagens de irmos de jipe foi podermos percorrer as dunas fora dos caminhos traçados e subir as encostas íngremes sem risco de atolar. Nunca tinha estado num deserto e não consigo descrever a sensação com justiça. O mais aproximado que posso dizer é que me senti um grãozinho de areia nesta imensidão dunosa. E as praias são muuuuuuito bonitas. E desertas. Mas infelizmente no sábado o céu esteve nublado todo o dia, e apesar de não estar propriamente frio a temperatura ambiente não convidava ao banho. Bolas!

Baía de Paracas

Islas Ballestas






Reserva Natural de Paracas - entrada no deserto




                Depois do deserto de Paracas seguimos para sul, em direcção a Ica, e fomos dormir à Lagoa de Huacachina. É um oásis no deserto. No verdadeiro sentido da palavra. Dunas e mais dunas, areia e pó, e de repente uma lagoa, rodeada de hosteis, restaurantes e bares. A-DO-REI. Outra vez indescritível. As minhas duas penas em relação a este lugar foi termos ficado apenas uma noite e não termos tido tempo de fazer sandboard – o ex-libris desta região. Mas tivémos tempo para um mergulho na piscina antes de jantar, e para passear à volta da lagoa, e para provar a bebida típica da zona – o Pisco Sour – e para dar um pézinho de dança na discoteca local. Huacachina tem muitos turistas e peruanos que vêm passar o fim de semana e fazer sandboard. Eu sonhava com uma festa com fogueira à beira da lagoa, mas em vez disso vi o amanhecer da encosta de umas das dunas que rodeiam o oásis. E quando partimos no domingo de manhã, eu e a Celsa tínhamos a mesma sensação: havemos de cá voltar.

 Lagoa de Huacachina - um oásis no deserto

O amanhecer a meio da duna

                A viagem de regresso foi interminável e muito cansativa. Outra vez as montanhas, os rios, as lamas e as alpacas. Quando cheguei a Ayacucho já estava nostálgica do deserto e do mar. Foi um fim de semana muito especial, por todos os lugares incríveis que vi, pelas refeições deliciosas de peixe e marisco que comi, e pelo convívio e galhofa que se gerou na nossa casa móvel, aumentando o à-vontade e confiança com algumas das pessoas que já conheço aqui e que comecei a frequentar.

                E agora a próxima viagem, quando é? :D

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