Quando penso na passagem do
tempo, e quando começa a fazer uma semana, um mês, um ano que certos
acontecimentos marcantes ocorreram, tenho sempre duas sensações contraditórias:
por um lado, parece que as coisas aconteceram ontem, tal a intensidade com que
ainda as sinto apesar do tempo que passou; por outro lado, parece que já foi há
muito mais tempo, considerando a avalanche de outras coisas que entretanto
aconteceram. Agora aqui, no Perú, sinto as mesmas duas contradições com muita
força: parece que foi ontem que me despedi de vocês com o coração apertadinho e
um nó na garganta, tal é a falta que me fazem e as saudades que sinto de
Lisboa; ao mesmo tempo, parece que foi quase numa outra vida, tal tem sido a
minha imersão nesta nova vida, a habituação ao lugar, às pessoas, aos costumes.
Estou há um mês no Perú. Ainda
tenho muito para aprender sobre este país, muitas pessoas para conhecer, muitas
crianças para ensinar, muitas viagens para fazer. Mas já me estou a habituar,
já me sinto menos gringa e menos extra-terrestre. Já sinto Ayacucho um
bocadinho minha. E confesso que agora os dias são mais fáceis e felizes do que
quando cheguei. Sinto que, se num mês cheguei até aqui, em mais nove vou
sentir-me totalmente em casa e amar este país tão diferente do meu, e quando
voltar para Lisboa vou deixar aqui um bocado do meu coração.
Tenho uma intuição previsiva de
que, aconteça o que acontecer, nunca me vou esquecer do que vivi no Perú.
Porque no Perú tudo pode acontecer. E até agora muito tem acontecido! *
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