terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dia 11 – PASSEIO A QUÍNUA E PRIMEIRA NOITE DE BORGA PERUANA

                Um dos motivos que me levou a escolher a América do Sul (e consequentemente, o Perú) para destino da minha experiência de voluntariado foi o fascínio que nutro há vários anos por este continente e o desejo que tenho de viajar e conhecer um pouco dos seus países. Todos estes países são imensos e cheios de lugares que merecem a pena uma visita. O Perú está, também ele, cheinho de coisas para ver, e confesso que sinto já alguma ansiedade ao perceber que não só não terei tempo como também não terei dinheiro para conhecer tudo o que há para conhecer. É impossível. É demasiada história e variedade de natureza para que se consiga abarcar tudo.

                Então, há que escolher. O Perú é constituído, genericamente, por três tipos de natureza diferente, que atravessam o país em três faixas mais ou menos verticais: a faixa costeira de deserto, banhada pelo Oceano Pacífico, a faixa central das montanhas (a Sierra) e a faixa interior da selva (com a Amazónia ao norte e outras zonas de floresta tropical ao centro e sul).

                A região de Ayacucho é denominada de Sierra Central e possui alguns locais must see não só pela sua importância histórica como também pela beleza natural. Um deles é a vila (ou pueblo) de Quínua, onde fui com a Celsa no sábado em que fez uma semana que cheguei a Ayacucho. Para lá chegar empreendemos uma verdadeira experiência “combi” – uma carrinha transformada em bus cheia de pessoas até ao limite físico do espaço e com mercadoria no tejadilho. Não levávamos galinhas, mas a meio dos quarenta minutos de viagem pelas montanhas parámos para recolher mais mercadoria – nomeadamente duas sacas com porquinhos da índia. Sim, porquinhos da índia. Aqui chamam-se cuys e são uma iguaria gastronómica. Comem-se fritos. É como se fossem coelhos, mas são porquinhos da índia.



                Quínua é uma vilazinha pacata na encosta da montanha, com casinhas baixas e brancas a fazer lembrar o Alentejo. É famosa pelo seu artesanato, não só os típicos textéis peruanos mas sobretudo pela cerâmica – figurinhas, presépios e casas em miniaturas, tradicionalmente colocadas nos portões e fachadas dos edifícios para os proteger dos sismos. Mas o exlibris desta terra é a pampa de Ayacucho (planalto) onde decorreu a famosa batalha de libertação do Perú e da América Latina do colonialismo espanhol. Nesse lugar construíram um obelisco em memória, e para lá chegar é preciso subir uma colina em degraus durante um km. Devido à altitude, cada passo parece três e não é por acaso que ao longo do percurso existem banquinhos para  irmos descansando.







Descansando...

...para continuar a subir.


Indubitavelmente o esforço vale a pena, não só pela maravilha de encontrar um planalto tão grande encaixado no meio de montanhas, onde os locais gostam de vir dormir uma sesta depois do almoço aos fins de semana, como pela vista em redor que se tem desse lugar. Aí é possível visitar o museu da batalha, alugar cavalos para passear, comprar mais artesanato, comer algumas iguarias típicas (dispensei os cuys, por razões óbvias...) e, especialmente, ouvir a história da batalha contada por crianças da aldeia que, depois das aulas, vêm prestar esse serviço informativo aos turistas em troca de um ou dois soles (cerca de setenta cêntimos de euro). E é incrível a quantidade de informação que são capazes de memorizar e reproduzir (em formato levemente automático…) sobre a batalha de Ayacucho, incluindo cantar canções. Muito bom!





"Te voy a cantar la batalla de Ayacucho"

Cuys fritos

De regresso a Ayacucho, tive direito à minha primeira noite de borga peruana. Reuniu-se o grupo todo em casa do Otchoa, um rapaz francês que trabalha na Cruz Vermelha Internacional aqui em Ayacucho (e tem uma casa tão luxuosa em comparação com as nossas modestas instalações…snif snif!) antes de irmos para a discoteca da moda da cidade: o Maxo. Posso dizer que me diverti bastante não só porque no geral do grupo, entre rapazes e raparigas, são todos bastante simples e muito simpáticos, mas também pela visão dos ayacuchinos a dançar reaggaton…impagável, inesquecível, impossível não morrer de riso. Condicionada pelo ambiente, também eu dancei esse belo estilo musical como se não houvesse amanhã.

E parecia não haver. Mas houve :) hoje fomos almoçar especialidades de peixe num restaurante nos arredores da Plaza de Armas. Nham nham, bom domingo!    

DIA 6 - MAMA ALICE


                A ONG Mama Alice foi criada há oito anos por uma senhora holandesa (a Freddie) que anteriormente tinha sido voluntária noutra ONG aqui na cidade de Ayacucho, onde trabalhava com crianças de rua. Depois de regressar à Holanda a sua mãe Alice faleceu devido a um cancro, e então ela decidiu voltar para o Perú e criar a sua propria fundação, em nome da mãe, e dedicar a sua vida a melhorar as vidas das crianças pobres de Ayacucho.

                Sendo esta a região mais pobre do segundo país mais pobre da América do Sul (o primeiro é a Bolívia), o problema das crianças desacompanhadas é um flagelo. Não é tanto o caso de crianças orfãs, mas de famílias destruturadas por os pais serem demasiado novos (a idade média para as raparigas engravidarem é de catorze anos) e trabalharem treze horas por dia para conseguirem alimentar os filhos (em média três por família). Disto resulta que as crianças passam os dias sozinhas quando regressam da escola, sem uma presença adulta, muitas vezes sem comer ou tomar banho, tendo as mais velhas de tomar conta das mais novas, crescendo sem apoio, protecção, estímulos, afecto. Em muitos destes casos, os pais são autênticos estranhos para os próprios filhos. Noutros casos ainda, um dos pais ou mesmo os dois abandonam os filhos com outros familiares (avós, tios, etc) e vão viver para outra cidade.

                A ONG Mama Alice tenta amenizar estas tragédias individuais através de dois centros de apoio instalados em dois bairros pobrérrimos de Ayacucho – Keiko Sofia e Once de Junio. Estes centros, monotorizados por professores, educadores, assistentes sociais , psicólogos e enfermeiros (trabalhadores contratados da fundação, pagos com os fundos e patrocínios angariados anualmente pela Freddie para esta causa) recebem crianças e adolescentes a partir da hora de saída das escolas,  ajudam-nas nos trabalhos de casa, promovem actividades de desenvolvimento pessoal (informática, música, inglês, skate, carpintaria, entre outras) e, sobretudo, disponibilizam um espaço onde elas podem permanecer supervisionadas até à hora em que os seus pais regressam a casa. E também têm um programa de lavagem dos dentes e banho. Algumas crianças só aqui têm acesso a estes básicos cuidados de higiene.

                Além destes centros, a Mama Alice tem uma casa de acolhimento permanente de adolescentes que viviam na rua (este foi o primeiro projecto da fundação, quando criada há oito anos pela Freddie), e que sobrevive sobretudo do trabalho de voluntários que aí realizam turnos alternados de vinte e quatro horas para acompanhamento dos adolescentes. E recebe também, no espaço da sua sede, dois grupos de seis crianças com dificuldades de aprendizagem e provenientes de famílias especialmente pobres e problemáticas, onde têm acesso a um acompanhamento individualizado a nível do ensino primário e de psicologia infantil.

                Importa também referir que além destas iniciativas, Mama Alice promove ainda acções de formação e acompanhamento directo em casa às famílias mais problemáticas destes dois bairros, através do trabalho dos assistentes sociais e dos psicólogos. E também tem uma linha telefónica e de chat para acompanhamento anónimo a crianças e adolescentes com problemas que querem pedir ajuda, e assim são direccionados para o acompanhamento específico consoante o seu problema (solidão, maus tratos, abusos sexuais, alcoolismo e drogas, dúvidas sobre sexualidade, etc).

                A Fundação Mama Alice é, assim, uma família de cerca de cinquenta pessoas de várias formações profissionais que trabalham para contribuir positivamente para a vida destas crianças desafortunadas. E aqui me vou inserir eu, como professora de música e inglês, trabalhando com os dois grupos de educação individual, na sede, e indo também dar aulas aos dois bairros onde estão instalados os centros. Neste momento sou a única voluntária, antes de mim estiveram duas raparigas belgas, e parece que em Janeiro chegará mais uma. Bamo lá ber!


 Sede Mama Alice - entrada

  Sede Mama Alice - escritórios

 Sede Mama Alice - o "meu" escritório

 Fregol, a mascote

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dia 4 – AYACUCHO, A HERÓICA

                Eu detesto viajar de noite e chegar de manhã. Ou melhor, não é que deteste, viajar de noite até tem um certo misticismo, e a paisagem que não se vê mas se percebe pela luz da lua e pelo rasto dos faróis do autocarro (sobretudo no meio das montanhas, onde não há iluminação pública) torna-se sugestiva. O que eu destesto, na verdade, é chegar a um sítio de manhãnzinha, com o sol a bater de chapa da fronha, depois de uma noite mal dormida, e sentir-me lerda e cansada logo às sete da manhã. É um dia perdido, quer durmas para recuperar, quer não durmas para manteres o horário normal e dormir só à noite.

                Eu cheguei às sete da manhã a Ayacucho e sabia quais as pessoas que me vinham esperar, mas não sabia como eram. Foi a minha colega de casa, Celsa, espanhola de Valência e psicóloga na Mama Alice, que me identificou. Também não seria difícil, pois a mala, a mochila, a viola, a estatura, o cabelo e as feições denunciavam-me. E em casa esperava-me uma recepção um pouco menos calorosa mas igualmente querida, com direito a cartazes na parede do quarto e almoço de boas vindas com o grupo de amigos da Celsa.





                Ayacucho é uma cidade amorosa cercada de montanhas e encaixada a dois mil e setecentos metros de altura. Nos primeiros dias senti alguma dificuldade em respirar e um cansaço extremo, mas depois passou. A cidade é famosa porque foi aqui perto que ocorreu a última batalha que ditou a libertação não só do Perú mas de toda a América Latina do domínio espanhol. E os seus habitantes são muito orgulhosos disso. Também é famosa porque nos anos oitenta e noventa esta região foi palco de episódios marcantes de violência por causa do grupo terrorista Sendero Luminoso, que fazia guerrilha para tentar derrubar o governo de direita e instalar uma república comunista. Nunca conseguiram e entretanto o líder foi preso, mas muitas pessoas despareceram e morreram durante esse período. Hoje em dia, todos os habitantes de Ayacucho que têm a minha idade têm uma história de morte ou desaparecimento na família próxima. Felizmente, o grupo terrorista desfez-se e hoje Ayacucho é uma cidade pacífica. Sem dúvida pobre, mas pacífica. E com alguns poucos turistas, e outros tantos voluntários estranjeiros, de modo que não me diluo na multidão mas sinto-me um pouco menos extra-terrestre do que em Lima.

O centro da cidade é uma praça, a Plaza de Armas, igual a todas as cidades sul americanas de colonização espanhola, rodeada de arcadas e edifícios importantes (catedral, câmara municipal, centro cultural e muitos bares e restaurantes), onde desembocam ruas cheias de lojas de todo o tipo. Uma das ruas leva ao Arco de San Francisco, antiga porta da cidade. E aí perto está o mercado. Ahhhh o mercado. Adoro mercados. E este é uma verdadeira esperiência esotérica, de contrastes. Frutas de todos os tipos, lindas cheirosas e muito apetitosas. Legumes que nunca tinha visto. Pão, queijo e carne ao ar e às moscas, com um cheiro de dar náuseas. E sumos frescos, feitos no momento, em que quase quatro copos custam cerca de um euro. E artesanato. Ahhhhhh o artesanato peruano. Mantas, tapetes, bolsas, calças, camisolas, garruços, cachecóis. Já sei com o que é que vou encher os meus vinte e três quilos de mala daqui a dez meses.

A minha rua, com vista para as montanhas: Jirón Callao

Plaza de Armas


A Catedral e Estátua do General Sucre, um dos libertadores do Perú e da América Latina


A Porta de San Francisco

Gelado artesanal de leite e sésamo, disponível aos fins de semana na Plaza de Armas

                As pessoas são genericamente amáveis. E o grupo de amigos da Celsa acolheu-me bem. É um grupo heterogéneo, com tanto de peruanos como de estranjeiros, com a particularidade de nenhum deles ser de Ayacucho, o que faz com que ao estarem todos cá sozinhos o grupo de amigos se torna a família, e fazem muitas coisas e passam muito tempo juntos.

                Agora estou no meu quarto cor-de-rosa, com muita luz e sem estores, com muito sono e um bocado atordoada. Estou no Perú. Estou em Ayacucho. E depois de amanhã começa o meu voluntariado. So let the games begin.

Dia 1 – LIMA, “LA HORRIBLE”

Lima é uma mistura de sentimentos contraditórios. Aterrei na capital peruana às seis da manhã, depois de uma hora de espera pelas bagagens, doze horas de vôo, seis horas de escala mais uma de atraso em Madrid, e uma hora de vôo de Lisboa. O tempo estava nublado e húmido. O taxista que me abordou queria cobrar-me mais do que o devido a pagar para o meu destino, mas eu já estava precavida e regateei. E afinal até era um senhor amável e simpático que me falou um pouco sobre a cidade durante a viagem.

Na casa dos Missionários Combonianos, no bairro de Santa Magdalena del Mar, esperava-me uma recepção inesquecível. O Pe. Manuel, amigo do meu pai, e o Pe. Sérgio, italiano, são os responsáveis por esta casa de formação onde moram treze seminaristas para serem futuros missionários. Tinham-me preparado um quartinho amorosíssimo com lençóis cor-de-rosa (onde foram desencantá-los, numa casa de homens, eu não sei) e uma folha na porta a dar-me as boas-vindas. Todos na casa sabiam quem eu era, ao que vinha, e trataram-me desde logo como alguém da família. E foi isso mesmo que senti: senti-me em família, em Lima, no Perú, do outro lado do Oceano Atlântico, do outro lado da América do Sul, a nove mil quilómetros de casa. Caraças!




O Pe. Manuel (português) e o Pe. Sérgio (italiano), primeiros amigos no Perú

Mas Lima foi um choque. O céu nublado permanente (sete meses por ano), a enormidade do espaço, o caos do trânsito, e também o meu cansaço à chegada. Pensamento inicial: ainda bem que não tenho de ficar aqui! No primeiro dia não conseguia situar-me, não conseguia orientar-me, fartei-me de andar a pé nesta cidade à medida dos veículos e não dos peões. Senti-me totalmente descontextualizada, e um autêntico extra-terrestre, porque não abundam turistas por aqui e eu sou terrivelmente “gringa”, sendo impossível passar inobservada nesta terra de gente baixa, pele castanha e cabelo preto. Muito preto.

 A praia de Chorrilhos (Lima sul) vista de Miraflores (Lima centro)

 Jirón Callao, uma das ruas do centro histórico de Lima

Lima, Plaza de Armas 

O cão mais peruano do mundo


As favelas de Lima

Os dias seguintes correram melhor. Talvez por ter dormido muito, pelo tempo passado nesse oásis de tranquilidade que é a casa comboniana, e por o meu lado latino vir ao de cima: orientei-me com os microbuses sem paragens marcadas nem horário definido, mas que estão sempre a passar, orientei-me com as enormes avenidas e os diferentes bairros (Lima tem dez milhões de habitantes; o chamado “centro da cidade” corresponde a Lisboa inteira) e percebi que as pessoas não sorriem e parecem trombudas mas depois de interpeladas até são simpáticas e prestáveis. Até agora, no meu top estão os taxistas, conversadores mas respeitosos, e os polícias que andam por toda a parte (o que é um pouco intimidante...) e me dizem bom dia ou boa tarde quando passo. Sou claramente “gringa”, nada a fazer.

Entretanto tive oportunidade de conhecer o Ádrian, peruano limenho amigo da minha amiga Isabel, que me levou de passeio com um amigo dele, cubano, a ver as praias nos arredores de Lima e a conhecer o bairro de Barranco, uma zona residencial de casinhas baixas e atmosfera tranquila. E a beber a primeira cerveja peruana! E depois, na casa comboniana, pude ainda partilhar de uma tarde de futebol: o meu primeiro jogo sul americano, Perú contra Bolívia nas qualificações para o próximo campeonato mundial. Começaram bem e cheios de fé, corriam que se fartavam e marcaram logo um golo. Depois sofreram um empate e perderam o ânimo…deixaram de correr. Fez-me lembrar qualquer coisa. Terrívelmente português J e descubri-me assim, três dias depois de chegar, a torcer pelo meu novo país de adopção. Uma sensação estranha.

A família comboniana em Santa Magdalena del Mar, Lima

Agora estou à espera da hora de apanhar o bus para Ayacucho. Queria ter partido de manhã, para ver a paisagem nesta viagem de nove horas pelas montanhas até aos dois mil e setecentos metros de altitude em que está a cidade. Mas sou muito lerda. Quando comprei o bilhete não reparei bem na hora, e o autocarro parte à noite…pelo que ao chegar ao terminal não havia bus nenhum à minha espera! Valeu-me o taxista Júlio, que me levou de volta para casa e prometeu voltar à noite para me levar outra vez ao autocarro. Isto depois de me contar a vida toda dele, da mulher e das filhas. Um fixe.

E então passei mais um dia nesta cidade permanentemente nublada mas que já não me choca...primeiro estranha-se depois entranha-se. Anyaway, ainda bem que não tenho de ficar aqui! :)

Dia 0 – ATÉ JÁ LISBOA, LEVO-TE NO CORAÇÃO

Não é a primeira vez que me despeço de Lisboa. Não é a primeira vez que me despeço dos meus pais, da minha casa e dos meus amigos, e do Simba. Não é a primeira vez que parto. Quando fui de Erasmus para Bari despedi-me da vida que conhecia por seis meses. Depois voltei e estive um ano e meio em Lisboa. Depois parti de novo, para o estágio em Génova por oito meses. E depois voltei outra vez e fiquei quatro anos. Agora parto novamente, desta vez por dez meses.
Em todas as partidas o coração fica apertado e as saudades são muitas. E em todas as partidas a adrenalida do novo e desconhecido anestesia a saudade. Mas tenho a sensação, agora, que nunca uma despedida foi tão difícil como esta. Talvez porque vou embora por dez meses seguidos, sem voltar no Natal e na Páscoa. Talvez porque vou para o outro lado do mundo, a um oceano e um continente de distância, com seis horas de diferença de fuso horário, dificultando as comunicações. E talvez porque esta partida significa o fim de um ciclo. Uma fase da vida que termina, fazendo sentir que quando voltar tudo será diferente. Diferente porque não sou a única a ir embora agora, não sou a única a mudar, porque a minha partida é apenas mais uma mudança num conjunto de mudanças que estão a acontecer desde há alguns meses na vida que eu conheci em Lisboa. Quando voltar será tudo outra vez novo, e mesmo sabendo que Lisboa e os meus pais e os meus amigos estarão lá à minha espera, será diferente do que é agora. E agora é tão bom. Tão bom que me faz questionar porque parto. Tão bom que já tenho saudades e a andrenalida do novo e desconhecido não está a anestesiar o suficiente.
Mas a vida é mesmo assim. Feita de princípios e fins. De fases e ciclos que começam e acabam. De coisas que custam fazer mas que sentimos que temos de fazer. Cada fim é um novo começo. E cada Adeus lança a perspectiva de um novo Olá. Até já Lisboa!