Um dos motivos que me levou a
escolher a América do Sul (e consequentemente, o Perú) para destino da minha
experiência de voluntariado foi o fascínio que nutro há vários anos por este
continente e o desejo que tenho de viajar e conhecer um pouco dos seus países.
Todos estes países são imensos e cheios de lugares que merecem a pena uma
visita. O Perú está, também ele, cheinho de coisas para ver, e confesso que
sinto já alguma ansiedade ao perceber que não só não terei tempo como também
não terei dinheiro para conhecer tudo o que há para conhecer. É impossível. É
demasiada história e variedade de natureza para que se consiga abarcar tudo.
Então, há que escolher. O Perú é
constituído, genericamente, por três tipos de natureza diferente, que
atravessam o país em três faixas mais ou menos verticais: a faixa costeira de
deserto, banhada pelo Oceano Pacífico, a faixa central das montanhas (a Sierra) e a faixa interior da selva (com
a Amazónia ao norte e outras zonas de floresta tropical ao centro e sul).
A região de Ayacucho é
denominada de Sierra Central e possui
alguns locais must see não só pela
sua importância histórica como também pela beleza natural. Um deles é a vila
(ou pueblo) de Quínua, onde fui com a
Celsa no sábado em que fez uma semana que cheguei a Ayacucho. Para lá chegar
empreendemos uma verdadeira experiência “combi” – uma carrinha transformada em
bus cheia de pessoas até ao limite físico do espaço e com mercadoria no
tejadilho. Não levávamos galinhas, mas a meio dos quarenta minutos de viagem
pelas montanhas parámos para recolher mais mercadoria – nomeadamente duas sacas
com porquinhos da índia. Sim, porquinhos da índia. Aqui chamam-se cuys e são uma iguaria gastronómica.
Comem-se fritos. É como se fossem coelhos, mas são porquinhos da índia.
Quínua é uma vilazinha pacata na
encosta da montanha, com casinhas baixas e brancas a fazer lembrar o Alentejo.
É famosa pelo seu artesanato, não só os típicos textéis peruanos mas sobretudo
pela cerâmica – figurinhas, presépios e casas em miniaturas, tradicionalmente
colocadas nos portões e fachadas dos edifícios para os proteger dos sismos. Mas
o exlibris desta terra é a pampa de
Ayacucho (planalto) onde decorreu a famosa batalha de libertação do Perú e
da América Latina do colonialismo espanhol. Nesse lugar construíram um obelisco
em memória, e para lá chegar é preciso subir uma colina em degraus durante um
km. Devido à altitude, cada passo parece três e não é por acaso que ao longo do
percurso existem banquinhos para irmos
descansando.
Descansando...
...para continuar a subir.
Indubitavelmente o esforço vale a pena, não só pela maravilha de
encontrar um planalto tão grande encaixado no meio de montanhas, onde os locais
gostam de vir dormir uma sesta depois do almoço aos fins de semana, como pela
vista em redor que se tem desse lugar. Aí é possível visitar o museu da
batalha, alugar cavalos para passear, comprar mais artesanato, comer algumas
iguarias típicas (dispensei os cuys,
por razões óbvias...) e, especialmente, ouvir a história da batalha contada por
crianças da aldeia que, depois das aulas, vêm prestar esse serviço informativo
aos turistas em troca de um ou dois soles
(cerca de setenta cêntimos de euro). E é incrível a quantidade de informação
que são capazes de memorizar e reproduzir (em formato levemente automático…)
sobre a batalha de Ayacucho, incluindo cantar canções. Muito bom!
"Te voy a cantar la batalla de Ayacucho"
Cuys fritos
De regresso a Ayacucho, tive direito à minha primeira noite de borga
peruana. Reuniu-se o grupo todo em casa do Otchoa, um rapaz francês que
trabalha na Cruz Vermelha Internacional aqui em Ayacucho (e tem uma casa tão
luxuosa em comparação com as nossas modestas instalações…snif snif!) antes de
irmos para a discoteca da moda da cidade: o Maxo. Posso dizer que me diverti
bastante não só porque no geral do grupo, entre rapazes e raparigas, são todos
bastante simples e muito simpáticos, mas também pela visão dos ayacuchinos a
dançar reaggaton…impagável, inesquecível, impossível não morrer de riso.
Condicionada pelo ambiente, também eu dancei esse belo estilo musical como se
não houvesse amanhã.
E parecia não haver. Mas houve :) hoje fomos almoçar especialidades de peixe num restaurante nos arredores da
Plaza de Armas. Nham nham, bom domingo!
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