A ONG Mama Alice foi criada há
oito anos por uma senhora holandesa (a Freddie) que anteriormente tinha sido voluntária
noutra ONG aqui na cidade de Ayacucho, onde trabalhava com crianças de rua.
Depois de regressar à Holanda a sua mãe Alice faleceu devido a um cancro, e
então ela decidiu voltar para o Perú e criar a sua propria fundação, em nome da
mãe, e dedicar a sua vida a melhorar as vidas das crianças pobres de Ayacucho.
Sendo esta a região mais pobre
do segundo país mais pobre da América do Sul (o primeiro é a Bolívia), o
problema das crianças desacompanhadas é um flagelo. Não é tanto o caso de
crianças orfãs, mas de famílias destruturadas por os pais serem demasiado novos
(a idade média para as raparigas engravidarem é de catorze anos) e trabalharem
treze horas por dia para conseguirem alimentar os filhos (em média três por
família). Disto resulta que as crianças passam os dias sozinhas quando
regressam da escola, sem uma presença adulta, muitas vezes sem comer ou tomar
banho, tendo as mais velhas de tomar conta das mais novas, crescendo sem apoio,
protecção, estímulos, afecto. Em muitos destes casos, os pais são autênticos
estranhos para os próprios filhos. Noutros casos ainda, um dos pais ou mesmo os
dois abandonam os filhos com outros familiares (avós, tios, etc) e vão viver
para outra cidade.
A ONG Mama Alice tenta amenizar
estas tragédias individuais através de dois centros de apoio instalados em dois
bairros pobrérrimos de Ayacucho – Keiko Sofia e Once de Junio. Estes centros,
monotorizados por professores, educadores, assistentes sociais , psicólogos e enfermeiros (trabalhadores contratados da fundação, pagos com os fundos e patrocínios
angariados anualmente pela Freddie para esta causa) recebem crianças e
adolescentes a partir da hora de saída das escolas, ajudam-nas nos trabalhos de casa, promovem actividades
de desenvolvimento pessoal (informática, música, inglês, skate, carpintaria,
entre outras) e, sobretudo, disponibilizam um espaço onde elas podem permanecer
supervisionadas até à hora em que os seus pais regressam a casa. E também têm
um programa de lavagem dos dentes e banho. Algumas crianças só aqui têm acesso
a estes básicos cuidados de higiene.
Além destes centros, a Mama
Alice tem uma casa de acolhimento permanente de adolescentes que viviam na rua
(este foi o primeiro projecto da fundação, quando criada há oito anos pela
Freddie), e que sobrevive sobretudo do trabalho de voluntários que aí realizam
turnos alternados de vinte e quatro horas para acompanhamento dos adolescentes.
E recebe também, no espaço da sua sede, dois grupos de seis crianças com
dificuldades de aprendizagem e provenientes de famílias especialmente pobres e
problemáticas, onde têm acesso a um acompanhamento individualizado a nível do
ensino primário e de psicologia infantil.
Importa também referir que além
destas iniciativas, Mama Alice promove ainda acções de formação e
acompanhamento directo em casa às famílias mais problemáticas destes dois
bairros, através do trabalho dos assistentes sociais e dos psicólogos. E também
tem uma linha telefónica e de chat para acompanhamento anónimo a crianças e
adolescentes com problemas que querem pedir ajuda, e assim são direccionados
para o acompanhamento específico consoante o seu problema (solidão, maus
tratos, abusos sexuais, alcoolismo e drogas, dúvidas sobre sexualidade, etc).
A Fundação Mama Alice é, assim,
uma família de cerca de cinquenta pessoas de várias formações profissionais que
trabalham para contribuir positivamente para a vida destas crianças
desafortunadas. E aqui me vou inserir eu, como professora de música e inglês,
trabalhando com os dois grupos de educação individual, na sede, e indo também
dar aulas aos dois bairros onde estão instalados os centros. Neste momento sou
a única voluntária, antes de mim estiveram duas raparigas belgas, e parece que
em Janeiro chegará mais uma. Bamo lá ber!
Sede Mama Alice - entrada
Sede Mama Alice - escritórios
Sede Mama Alice - o "meu" escritório
Fregol, a mascote
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